A Internet educa?
Caríssimos,
convido-os a participarem desse debate. Ele é de todos nós e não deve ficar restrito apenas aos "especialistas" em Educação. Todos convivemos com crianças e jovens e, creio, esse é um bom momento para refletirmos sobre o assunto.
A reportagem que segue é apenas um ponto de partida e não é representativa da minha opinião. É um convite inicial para conversarmos.
Um grande abraço a todos!
Denise Vilardo
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Por: André Machado - O Globo
RIO - Faz pouco tempo, foi lançado nos Estados Unidos um livro chamado "The dumbest generation" ("A geração mais burra"), do professor universitário de inglês Mark Bauerlein. Baseado em várias pesquisas - de órgãos do governo, consultorias e instituições educacionais -, o livro chega a uma conclusão terrível sobre a juventude americana: ela não lê, não acredita no trabalho, não visita museus e outras instituições culturais e sequer consegue explicar métodos científicos básicos ou saber algo de História. "Mas são campeões em entreter-se uns aos outros", diz um texto no site do autor. "Passam uma inacreditável quantidade de tempo trocando eletronicamente historinhas, fotos, deliciando-se com a atenção de seus pares..."
No começo deste ano, uma pesquisa na Inglaterra mostrou que quase 90% dos estudantes começam uma pesquisa por uma ferramenta de busca em vez de ir a um site de biblioteca. E, quando pesquisam livros e jornais eletrônicos, eles não ficam nos sites mais do que oito minutos.
Professores brasileiros também se preocupam
Professores e pedagogos brasileiros também se preocupam com essas constatações, percebendo que a internet, se por um lado é uma fonte valiosa de informação, por outro apresenta uma desorganização intrínseca que acaba levando à dispersão e deixando de fomentar o espírito crítico. Isso começa na escola e atinge até a universidade, onde a indústria dos trabalhos prontos se transferiu para a rede, como se viu em artigo publicado pela "Digital" na semana passada. Mas vai além do meio acadêmico. Já começa a afetar a busca por jovem profissionais que chegam ao mercado, como atesta a psicopedagoga Heloísa Yoshida, diretora da Sistêmica Desenvolvimento de Pessoas, no Rio.
" Como um jovem que se formou como "pensante" na base do copy/paste no computador pode apresentar essa postura (criativa e com iniciativa? "
- Eu oriento carreiras de executivos e jovens vestibulandos e universitários - conta Heloísa. - E há reflexos dessa geração conectada, chamada geração Y (que nasceu a partir de 1980), dentro do mercado. Quando entrevisto candidatos a emprego para empresas, vejo muitos problemas. Por exemplo, as empresas buscam pessoas criativas e com iniciativa. E como um jovem que se formou como "pensante" na base do copy/paste no computador pode apresentar essa postura?
Heloísa explica que, ao contrário da geração anterior, a atual não aprendeu a construir e estruturar o conhecimento, daí a carência de pensamento original na nascente vida profissional.
- A característica da geração atual é o conhecimento descartável - sentencia. - O livro do Bauerlein é sobre o jovem americano, mas é para a juventude americana que o mundo olha, até em função do cinema. Portanto, a geração de que ele fala está em todo lugar.
'Faltam clareza e transparência na comunicação da geração Y'
O acúmulo de conhecimento, sem construção, também leva à falta de assertividade. Que por sua vez causa uma capacidade capenga de comunicação.
- Faltam clareza e transparência na comunicação da geração Y - diz Heloísa. - A vida dependente da tela do computador leva a isso.
Ela diz que num concurso para trainee em empresas privadas, de seis mil candidatos saem cem, se tanto, para o processo de seleção. E aí o talento individual faz mais diferença.
Para Maristela Memere Riski, assessora pedagógica do Colégio Logosófico, em Botafogo, é preciso lembrar que a juventude, em todas as épocas, sempre foi criticada.
- Outro dia, num congresso, li para os professores algumas palavras, dizendo que a juventude é irascível, não respeita a autoridade, não tem medida... Perguntei-lhes se achavam a frase atual, e eles concordaram. Mas é de Aristóteles, de 300 anos antes de Cristo - comenta. - Isto posto, a questão da cópia é um fato. Os pais chegam nos dizendo que os filhos nem lêem as coisas direito, só copiam e colam, copiam e colam.
Bauerlein citou num chat recente algumas razões por que a geração Y parece perdida: 1) Alienação. "Não é que eles não estejam interessados na realidade, é que eles estão totalmente separados dela. Só querem saber de realidades imediatistas". 2) Falta de leitura. "Nenhuma outra geração se gabou disso como a atual". 3) Incapacidade de soletrar. "A falta de maiúsculas e os códigos de escrita para mensagens instantâneas dominam os textos online". 4) Os jovens são ridicularizados pelos pares por pensarem de forma original. 5) Excesso de games, que acaba prejudicando a vida letiva. 6) Incapacidade de memorizar a informação. "Para quem tem 40 anos e freqüentou bibliotecas na juventude, a internet sem dúvida é um manancial de informação. Não para o jovem de hoje, que usa a internet como um sistema de entrega, recebendo a informação e passando adiante". 7) Os professores não dizem aos jovens que eles são burros. E os pais não brecam as mensagens instantâneas de madrugada.
Para professora, orientação é que norteia resultados
Nem todo mundo acha que copiar informações representa um problema em si. Tudo depende da orientação que é dada. Essa é a opinião da professora de História Dalva Sartini, supervisora pedagógica do Colégio Liessin.
- A intenção do professor é que vai nortear o resultado de uma pesquisa - diz Dalva. - Ele precisa saber o que pedir e orientar corretamente o aluno. O que o professor deseja? Apenas uma coleta de informação para embasar determinado assunto ou fazer um trabalho em grupo? Nesse contexto, a cópia sempre existiu, inclusive antes da internet. Agora, se deseja uma interpretação, uma inferência sobre o que se pesquisou, deve pedir que o aluno elabore.
Dalva diz que a cópia é a primeira coisa a fazer em qualquer pesquisa, mesmo em níveis de ensino mais altos. Trata-se do ponto de partida para a organização das informações para análise posterior.
- O que acontece muito no ensino médio é que o professor não pede uma elaboração do aluno, mas quer que isso apareça na mão dele - explica Dalva.
O problema, então, pode estar mais atrás, na própria formação dos professores. E isso sem falar no desestímulo para exercer a profissão, uma das mais sacrificadas e desvalorizadas no país.
Maristela Riski diz que, em seu colégio, os alunos têm suas pesquisas, feitas no laboratório de informática, devidamente registradas.
- E, embora haja cópia e colagem de informações, eles precisam elaborar, porque é norma que apresentem os resultados da pesquisa - explica. - É necessário mostrar o que foi processado. Além disso, nestes tempos em que a propriedade intelectual é constantemente tomada, buscamos mostrar que isso não é correto e ensinar valores éticos, debatendo-os.
Ela exige que os sites usados na pesquisa sejam devidamente citados, assim como a bibliografia tradicional. E também orienta os professores para fomentar os procedimentos certos durante a navegação.
- É preciso lembrar que informação ainda não é conhecimento - diz Maristela. - E isso tem de vir do colégio para a vida do jovem.
Professora acha que alunos ainda tem muito a ensinar aos mais velhos
Pessoalmente, ela não vê um declínio do raciocínio dos estudantes, e acha que, pelo contrário, eles podem ter muito a ensinar aos mais velhos, justamente por serem mais proficientes no uso da tecnologia. Também acredita que a internet estimula a vontade de escrever mais, emoticons, códigos e afins à parte. O que falta, mesmo, é a direção, o chamado knowledge management, ou gerenciamento da informação.
- Tentamos incentivar a ida à biblioteca, inclusive para os professores, e eles pedem aos alunos que pesquisem em livros também, não somente na rede.
A lida diária com a internet, que ocasiona a informação "empilhada" e efêmera, acaba prejudicando a geração Y no mercado de trabalho, explica Heloísa Yoshida.
- O conhecimento não é sempre um fator de contratação hoje, porque é possível capacitar alguém em alguns meses para determinada função - diz Heloísa. - Mas o comportamento é um fator fundamental, e justamente por estar conectada com o computador e não com a realidade a geração Y perde nesse quesito. E isso tem a ver com a comercialização e massificação do ensino. Os professores perderam a autoridade e isso se reflete no comportamento dos jovens. Faltam limites.
Hoje, explica, os trabalhos de escola são feitos às dez horas da noite da véspera da entrega: copia-se, cola-se, imprime-se e entrega-se.
- Cabe ao professor orientar, não aceitar isso e mandar refazer.
Dalva Sartini lembra que fazer uma pesquisa é fazer uma pergunta. E que, num primeiro momento, o professor tem que fomentar esta pergunta no espírito dos alunos, direcionando-os para as respostas e estimulando seu raciocínio. Com o passar do tempo, assim, eles aprenderão a fazer as próprias perguntas e encaminhar para as trilhas certas suas investigações.
2 comentários:
Olá, Denise.
Meu nome é Bruno, sou argentino, jornalista, e em dezembro vou me formar como professor de português. Depois disso, vou fazer curso de mestrado na PUC-Rio, a partir do primeiro semestre do ano que vem, e estou procurando trabalho na cidade, se for possível, como professor de português ou de espanhol. Eu vi o seu blog, onde diz que você é coordenadora pedagógica do colégio Graham Bell. Eu só queria entrar em contato com você para lhe enviar o meu CV.
Muito obrigado!
Bruno - bbimbi@ciudad.com.ar
Oi, Denise
Como tudo que Vc posta é bom, fica difícil de escolher um só post. Mas, vamos a este.
Há muito tempo discuto com os meus parceiros de trabalho a questão da autoria do texto. Vejo que com o aumento do uso da Internet, o acesso a diferentes fontes de informação, ajudou um pouco aos alunos "preguiçosos".
Entretanto, aluno preguiçoso é gerado por professor preguiçoso e daí por diante. Acredito q esta dinâmica é velha e todos nós já a conhecemos.
Como bem diz o texto, nem toda informação gera conhecimento, aliás muita coisa deve ser descartável, afinal temos q saber discernir o que útil para aquela comunidade escolar, para exatamente não cirmos no erro q tudo é válido.
Qdo se trabalha com os alunos, fazendo-os refletirem, fazendo-s se perguntarem o pq das coisas já é um bom início.
Acredito q o maior problema ainda é a concepção que temos do q seja uma "escola", a quem serve e como serve.
Sempre tivemos a preocupação de formarmos nossos alunos para o vestibular, portanto não fizemos nada que garanta eficiência ou eficácia. Só lhe fornecemos informações, das quais 90% devem ser jogadas fora no ano seguinte.
Acredito que a escola é necessária, assim como os computadores. Um não desqualifica o outro. Acredito que sejam ferramentas complementares.
Entretanto, a visão, a missão da escola é que dará rumo a estas questões, isto é, onde cabe cada um desses instrumentos.
Eu acredito em uma escola onde o aluno tenha a possibilidade de pelo menos escolher 40% do seu curriculo. Um currículo fechado, onde só o professor e a equipe pedagógica diz o q ele deve aprender, já começa errado.
A pesquisa é necessária e qdo é bem acompanhada gera bons frutos.
Só ressalto que pelo menos em minha cidade, os prometidos computadores para os professores ainda não foram entregues como o prometido. Muita gente ficou de fora.
E aí vem a grande questão... Será se o m4esmo não irá acontecer com os alunos? E tem mais, a internet ( banda larga) nesse país é muito cara.
Vamos ver como fica.
Depois conversamos mais, conforme as novas notícias.
Um abraço
Natalícia
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